Especial - Fabricar jogos pode se tornar crime no Brasil

Bom, já que faz um bom tempo que eu não posto, e deixo claro que este corpo frágil estava incapacitado de faze-lo devido a acertos de vários lados, decidi que hoje é dia de uma postagem especial.

As pessoas podem me odiar, pois estou fazendo isso as 2 horas da manhã (ou como me corrigiriam, as 01 e 47h pois o horário DEVE ser passado exatamente como é), o sono bate forte, a música que escuto de trilha sonora é muito melosa (confira aqui e aqui), quando eu deveria estar ouvindo uma forte trilha sonora, já que Dragon Age é o vencedor de melhor RPG do ano de 2009 pela VGA (trilha esta cantada pelo auto-sugador Marilyn Manson que você confere aqui - não chora, Pati). Mas como são duas horas da manhã, estou postando de minha nova casa, o senhor Douglas acabou de deixar o meu rádio no meu quarto ( valeu =] ) e eu to morrendo de sono, irei logo postar o que eu acho sobre toda esta história.

Que história?

A história do post, é claro. Dessa louca história, já velha e passada sobre essa lei, velha, falha e, desculpa a sinceridade, inútil.

Vejamos, primeiro temos o senador Valdir Raupp, ele é do PMDB de Roraima. Seu nome completo é Valdir Raupp de Matos e ele nasceu em 24 de agosto de 1955. Ou seja, com todas essas informações presentes, posso afirmar com todas as letras possíveis do nosso amigo senador: VIRGEM (no signo gente, por favor).

Eu não sou nenhum psicólogo, mas acho que na infância, ou na adolescencia ele não teve um videogame para poder se divertir e se entreter, já que ele é o criador de uma lei dessas.

E levando em consideração que ele é VIRGEM (no signo gente, por favor[2]) ele deveria concordar com este que é um ótimo meio de entretenimento multimídia. Ele deveria estar tentando diminuir os juros que caem astronômicamente nos jogos e consoles que vem de fora pra cá. Mas não, ele crê que fazer game developers e vendedores como criminosos vai resolver os problemas de violência do Brasil.

Bom, a afirmativa dele, segundo seu relator Valter Pereira, que também é do PMDB, porém é de Mato Grosso do Sul, disse que "Alguns jogos têm passado de brincadeiras de mau gosto, sendo arsenal de propaganda e doutrinação contra determinadas culturas, não sendo possível confundir liberdade de expressão dos jogos com culto à anarquia, desrespeito à imagem e honra das pessoas e aos cultos com suas liturgias".

Anarquia, oeee oeee, anarquia, oeee oeee!!!

Claro, essa afirmação dele foi feita com base em um estudo feito na Universidade de Michigan, em 2005, que afirma: "os videogames mudam as funções cerebrais e insensibilizam os jovens diante da vida. Os jogadores frequentes sofrem danos a longo prazo em suas funções cerebrais e em seu comportamento". Um detalhe: Ele não cita o nome do estudo. É realmente difícil saber que diacho de estudo é esse. Agora, vamos ao parecer que ele e o Valter Perreira deixaram. Leia o pdf na integra aqui.

E agora, comecemos a interpretação deste relato que me soou muito interessante, pois lembra muito a visão de meu pai sobre jogos eletrônicos quanto eu tinha 15 anos. Pelo menos meu pai evoluiu nesse tempo, e hoje, apesar de não conhecer muito sobre jogos eletrônicos, acompanha as notícias sobre seu mercado que não para de crescer.

Enfim, vamos lá:

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"O autor, Senador Valdir Raupp, justifica que a tipificação do crime,
ora proposta, resulta do desrespeito ao princípio de liberdade de crença religiosa
assegurada nos incisos VI e VIII do art. 5º da Constituição Federal (CF), à
inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas e à norma que manda punir
qualquer discriminação contra os direitos e liberdade fundamentais, garantidas,
respectivamente, nos incisos X e XLI do mesmo art. 5º."

Porque isso só acontece nos video-games, claro...

"Muitos jogos de videogame apresentam lutas, perseguições, ataques
e mortes. A tarefa do jogador é caçar e destruir o maior número possível de
inimigos, representados com feições grotescas, monstruosas ou ridículas.
Destruí-los é salvar o mundo nesses jogos."

O que? Vai me dizer que não é divertido? Grandes feitos foram determinados dessa forma (Harry Truman que o diga)

"Embora sejam classificados pelo Ministério da Justiça, alguns jogos
de videogame desprezam, notadamente, o comportamento correto das crianças,
ensinando palavrões. Em outros, os “gays” são mortos e as religiões, tais como o
satanismo, budismo, hinduísmo, judaísmo e o cristianismo, são ofendidas.
"
Porque isso só acontece nos video-games, claro...[2]

"Sobre o cristianismo, vê-se em alguns jogos alguém bater em anjos,
enquanto se escuta um coral católico. É comum um superbandido bater asas pelo
inferno antes da batalha final, ou até derrotar Jesus e seus doze apóstolos,
embora tenham nomes engraçados."

Alguém pode me informar que jogo é esse? Não? Olha, dos apóstolos eu não sei, mas conheço o Bible Fight.

"É certo que a CF, no art. 5º, XLI, dispõe que “a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades”. Assim, entendemos que a
liberdade de expressão dos videogames não pode ser confundida com anarquia,
desrespeito à imagem e honra das pessoas e aos cultos e suas liturgias.
"
Anarquia...oe oe...anarquia...oe oe!!! Vamos todos nos juntar pela causa de Sephiroth e irmos para a Terra Prometida!!! Yeeeey!!!


Entendemos que o projeto sob análise aperfeiçoará a citada Lei nº
7.716, de 1989, que prima pelo respeito ao princípio da igualdade no tratamento
das pessoas.

Acho que ninguém entendeu bem assim, amiguinho!!!

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Agora, sejamos justos: causar todo esse estardalhaço e querer mostrar aos parlamentares que games (e apenas games) é ruim e influencia demais as pessoas me soa um tanto... ignorante. O pior é que isso causou estardalhaço lá fora...mano...LÁ FORA!!! Qual é a desses caras? Antes, já não ajudavam, agora querem atrapalhar?

Quem quiser ver mais sobre a notícia no exterior, o pessoal da Nonuba Games postou algo bem rico e interessante sobre o assunto. Confira aqui a notícia.

Mas....claro, como essa história é old pra caramba, já desenrolou muitas águas, e a nossa querida Abragames decidiu que era hora de se pronunciar contra esse projeto do Valdir. Segundo a carta que foi assinada por André Gustavo Gontijo Penha, vice-presidente de Relações Públicas da Abragames, quatro pontos devem ser levados em consideração em relação a este assunto:
  • O discurso ignora a criação artística em jogos digitais, tratando‐os de forma diferente de outras mídias, como por exemplo filmes, livros, música e emissões de televisão;
  • O projeto pode ser contrário aos parágrafos IV, VIII e IX do Artigo 5º da Constituição Brasileira de 1988, que somam a indicar a liberdade de expressão, da manifestação do pensamento, da crença filosófica ou política e da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação;
  • Os jogos já recebam no Brasil eficiente classificação indicativa, fornecida pelo Ministério da Justiça, por meio de seu Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação;
  • O projeto é sobretudo ineficiente para o fim que propõe, pois parece desconhecer o mercado de jogos digitais no Brasil ao tentar tornar crime trabalhos que, em apenas seis por cento (6%) dos casos são atividades legais.
Isso foi um resumo da carta da Abragames, você pode ler ela aqui.

Agora, essa lei é taxada inútil, sua base é considerada falha e ineficiênte. Então o que fazer?
Eu te digo, senhor Senador! :D

Acho que seria interessante que outras pesquisas COM NOMES E AUTORES DEVIDAMENTE APRESENTADOS sirvam-lhe melhor como base para seu estudo sobre os jogos eletrônicos. Um blog chamado Trezentos fez esse pequeno favor a minha pessoa, deixando alguns bons links para um melhor estudo. Com as honras, senhor Rodrigo Veleda:
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Primeiro eu cito um editorial, eu disse editorial, do British Medical Journal, cujo subtítulo não poderia ser mais claro: Video gaming is safe for most players and can be useful in health care.

Outro estudo, agora americano, tem o interessante título “The school shooting/violent video game link: causal relationship or moral panic?” e foi publicado no Journal of Investigative Psychology and Offender Profiling. O autor é Dr. Christopher J. Ferguson (seu site pessoal tem inúmeras informações sobre o uso de videogames como bode expiatório) do Departamento de Justiça Criminal e Ciências Aplicadas e Comportamentais da Universidade Internacional da Texas A&M em Laredo.

Continuando com as citações, vou para o “Internet Fantasy Violence: A Test of Aggression in an Online Game” do Dr. Dmitri Williams da Universidade do Sul da Califórnia e do Dr. Marko Skoric da Universidade Tecnológica Nayang e que foi publicado no Communication Monographs. Como diz o resumo do artigo:

Research on violent video games suggests that play leads to aggressive behavior. A longitudinal study of an online violent video game with a control group tested for changes in aggressive cognitions and behaviors. The findings did not support the assertion that a violent game will cause substantial increases in real-world aggression.


Depois temos uma entrevista com o Dr. Henry Jenkins, na época diretor de estudos comparativos do MIT, que demole cada mito “videogame deixa criancinhas indefesas violentas”. E por fim, temos o livro Grand Theft Childhood: The Surprising Truth About Violent Video Games and What Parents Can Do dos drs. Lawrence Kutner e Cheryl Olson, ambos diretores e fundadores do Centro de Saúde Mental e Mídia do Hospital Geral de Massachusetts e professores de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Harvard. Resumindo o livro, ele detona o seguinte argumento de Pereira no relatório pedido a aprovação do PLS de Raupp:

"O Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan divulgou, em 2005, que os videogames mudam as funções cerebrais e insensibilizam os jovens diante da vida. Os jogadores frequentes sofrem danos a longo prazo em suas funções cerebrais e em seu comportamento.
(…)
Nos últimos tempos, os videogames têm se popularizado junto à sociedade e, paralelamente, alguns crimes têm sido creditados à transposição da violência virtual para o mundo real".

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Obrigado pelas palavras, senhor Veleda.

Não é nada difícil achar informações úteis nesse prático sistema que é a internet...da mesma forma, é fácil encontrar muitas coisas realmente pútridas e ineficientes. Sendo esta uma lei que causou tanto estardalhaço no mercado de jogos, aqui dentro ou lá fora, é de se esperar que essa lei não vingue, pois creio que as pessoas ainda tem um senso comum para entender que os games já superaram o todo-poderoso mercado hollywoodiano de filmes. Que os games são uma evolução inevitável nesse novo mundo que nos espera, e que tentar poda-los pode ser catastrófico, assim como tentaram fazer com a própria internet.

Deixo claro que, apesar no linguajar bem simples e direto, essa matéria revela muito mais a minha opinião pessoal sobre essa questão. E acho que, como meu amigo Cauê disse: "não vai dar em nada isso ae não".

Mesmo assim, precisava botar essas informações a todos de forma certa e bem colocada, para que de repente sirva pra alguém que não esteja sabendo desas informações, veja-as de forma bem mastigadas.

E lógico, vou enviar essa matéria pro email do senador Valdir Raupp, porque não??? Acho que, se ele não possui o conhecimento adequado para um julgamento detalhado sobre os jogos, é dever de nós, gamers, tentar mostrar pra ele o quão importante esse mercado é, para que os games não sejam mais tratados como "jogos de crianças".

Alias, o email dele esta nessa página do senado.

Espero que ele aproveite bem esse fim de ano para pensar um pouco, já que o senado esta em recesso, e o julgamento dele no STF foi suspenso e só voltará a se falar nisso no final do recesso (que é no final de Janeiro).

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Aproveitando também, gostaria de desejar a todos os leitores desse blog um Feliz Natal Mega Atrasado e um Ano Novo próspero e cheios de "jogos de videogame que apresentam lutas, perseguições, ataques e mortes. Pois a tarefa do jogador é caçar e destruir o maior número possível de inimigos, representados com feições grotescas, monstruosas ou ridículas".

Boas festas a todos.